sábado, 30 de julho de 2016

vinte e três e cinquenta e nove: o último ataque



Chegou a hora do último lance. 

O dia se esvaiu em correntes rápidas e às vezes, dolorosas. Está chegando o último momento. A última jogada da última hora. Aquela sensação de chegada, de conquista, de saudade, caramba, nostalgia.
Quando o dia amanheceu, me sentia apenas como um menino eufórico em uma correria rumo a um projeto de liberdade. Um baque desses que a gente tem quando o despertador toca de uma vez no meio de um sonho. Foi meu primeiro alarme. Me desestabilizei. E me envolvi. Cada pedacinho de momento era coberto com o mais doce e mais puro sabor de proveito.
E me mantendo, me mantive. Eu mesma, não você. Mas estive cada vez mais como uma divindade. A de mim mesmo. Um segundo tinha o turbilhão de coisas que vinham e cresciam sobre minha cabeça e criavam uma noção de eu tão complexa e inimaginável há poucas horas. Aprendi com coisas que eu podia amar. Coisas não, pessoas.
Quando vi, já ia dando meio dia. A volta do tempo era tão impossível. Reverti amores, sem perceber que era para os polos magnéticos terem se revertido. Aprendi amores, sem perceber que eu nunca tivera aprendido antes. Sonhei com dores, como se a ficha de um grande tabuleiro caísse no chão, quebrando para um fundo de poço que só passou a existir dentro de mim.
Só que continuei por amar. Amava deitado no sofá enquanto esperava os minutos passarem, lentamente, anunciando meu fracasso. As horas iam se findando e eu ia me afundando. Aquele que era no começo não era mais aquele do meio. Mas o meio reservava caixinhas de surpresas como aquelas pererecas no banheiro, ou amizades instantâneas, saudades telinus, saudades vinte horas, saudades fantasma radiofônico.
Consegui amar. E à noite, quando as onze e cinquenta e nove davam seus sinais, me pus montado. Aquele horário, para mim, era de verão. “Eu não tinha melhor momento para poder estar lá”. Sambei naquele fim de noite. A quase meia noite virou vinte e três horas e nesses minutos eu pode correr. E corri. E chorei. E amei... E como amei.
Agora eu posso ver a meia noite chegando. A verdadeira. Acompanhado estou de coisas que sinto que me fazem bem. Deixei para trás as casas sombrias, pessoas do mal que se irremediava dentro de minhas conexões. Está chegando o último momento. É meu último ataque. Nunca imaginei que quando eu disse que somos humanos, passíveis ou não de possibilidades, estaria experimentando cada letra desta frase. 

Agora me estabilizo, e sigo...

sexta-feira, 27 de maio de 2016

ei moço bonito

tem um rosto tão belo. um jeito de falar tão tocante. uma bondade mais visível que a luz de todos os sóis juntos. fala baixo, respeitoso, apaixonante. olhos, sobrancelhas, o cabelo caindo pela testa. a bochecha se erguendo em um desenho único quando sorri, e me faz sorrir. ficou lindo assim, desse jeito mesmo. não sai daí, estou a te olhar por esse caminho. deixa a luz dar tua beleza à minha visão.

sexta-feira, 20 de maio de 2016

a rima

por enquanto sou nada. não mais te confio meus segredos mais estranhos e minhas dores mais profundas. não posso confiar no brilho de teus olhos e na paz que tua respiração me traz. a mentira é tua amiga íntima e troca de roupa ao teu lado, enquanto me diz que é bela a sensação de viver assim. como confiar na paixão que descarrega em olhares, desejos, vontades, orgasmos, possibilidades? confiei em ti e mentiste mais uma vez, caro. a dor é minha, mais que minha, a dor é nossa. dói como o arpão atravessando todo um corpo, dói como uma explosão. dói. tu me causaste tanta dor e simplesmente sem motivo algum acha que está tudo bem. como diriam os coloquialismos do dia a dia, fui feito de trouxa. uma trouxa frágil, que rasga no primeiro vento para sentir que a realidade não é um conto de fadas. mas tem uma coisa que está inscrita em mim, e cintila repetidamente como as estrelas no céu claro do pacífico, que grita em tom mais alto tentando calar a revolta da verdade que toma conta de mim, que bate em minhas costas me empurrando de novo, de novo, e de novo até ti, ó pesadelo que se disfarçou de sonho para me envolver em ilusões macias e confortantes. é amor, é amor que eu não entendo. é amor que em seu clichê maior, rima com dor. será o destino de quem ama, sentir dor?