quinta-feira, 14 de novembro de 2013

sobre abraçar

Abra a porta de casa, o vento pode estar lá, sendo o resultado do voo da borboleta que inocentemente saiu do casulo no Vietnã. Mas se ele não estiver, não se assuste, ele não é desses que aparecem quando simplesmente querem, a não ser que seja necessário. Porque ele pode querer bagunçar seus cabelos, para você correr ao espelho e ver como ficou, e quem sabe dar uma risada, dessas que a gente sente falta quando o dia não foi nada bom. Porque ele pode trazer aquele calafrio bom, para aquela vontade de um abraço subir à cabeça mais rápido que o gole de bebida na festa da noite anterior, que te fez sorrir mais do que pensava em toda a vida, e então te fazer deitar, só e consigo mesmo imaginar o mais caloroso dos abraços. Não, não precisa de ser por causa do vento, pode ser ali, no cantinho da rua, um bom desejo de felicidade, ou quem sabe embaixo da chuva forte. O vento é um pretexto, ele não precisa fazer você querer um abraço, e este sim, quando você menos espera ele te pega de surpresa, e mesmo sem intenção, te marca de novo.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

quase perdi minha vez no jogo da vida

Vem ver o que eu tenho preparado nessa noite quente. Vem escrever uma daquelas frases que só você transforma em perfeitas. Me deixa sentir mais uma vez o calor que vem do céu ser refletido por você, em mim. Me entregue, ao mais profundo de você, só mais uma vez, se é que existe essa vez. Vem transformar o singular no plural, o "eu" em "nós", o "a gente" em "todo mundo" e o todo mundo só nós dois, dançando aquelas músicas da Islândia que todo mundo chama de estranha, inclusive você, e assim trazer aquelo vento que arrepia, que gela, que brilha o céu em serpentes luminosas. Mas eu me faço assim, eu me entrego a você, se você me deixar entregar. Posso ser bem o que não pensam que pudesse ser, e se o jogo dessa vida é tão improvável assim, não vou ser tão bobo assim de deixar minha vez, mais uma vez, se perder.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

do sonho repetido

se compromete a levantar
a melhorar
deixar de sonhar o sonho que podeia ser real
escala ao topo dos prédios
num pensamento que não acaba
em busca da resposta
"por que de novo?" - ele se perguntava
ele sabia que não era para pensar de novo
ele sabia que o passado era passado porque nunca aconteceu
e se tivesse acontecido, teria sido melhor?
é melhor parar de sonhar, e fazer a vida seguir nos passos dos caminhos de pedra
já dizia a música, que a melhor coisa que já foi criada é um novo dia

domingo, 4 de agosto de 2013

fjögur píanó

era chegar em casa tarde da noite e perceber que ninguém mais se importava
era entrar no quarto escuro e solitário e escutar o som forte da canção melancólica
era deixar de ser si mesmo para ser para quem gosta
era ouvir bem cedo o som dos sons que não se escutavam mais em todo canto
era dançar conforme a música que não tocava
era chorar o choro dos que não sabem mais sentir
era perceber, sentado com o braço entre as pernas, que nada mais é tão lindo como tudo
era rir de todas as bobagens e de todos que paravam nas portas das casas vendendo felicidade
era vender felicidades junto a eles, e sentir a própria
era sonhar sonhos concretos e absurdamente leves, como voos em nuvens intermináveis
era acordar de manhã e sentir o vento gelado no corpo antes de qualquer gesto
era se vestir para o lugar onde não se quer ir
era estar no lugar e descobrir que lá é onde a solidão não precisa mais existir
era tocar os pensamentos como quatro pianos que se alinham num único, e perfeito momento...
era exercitar os músculos da face, numa resposta a todo o bem que se faz... sorriu.





segunda-feira, 29 de julho de 2013

tentativas

tentei ser forte
me segurar no plano da frieza, ou ser curto e grosso
encontrar a mim mesmo antes de encontrar outros rostos
outras vozes...
outros...
mas eu sou é carente de outros
e me pego sem ter alguém pra conversar

sábado, 27 de julho de 2013

um anjo

era um anjo revoltado, queria ir para o espaço em vez de ir para o céu, queria ser a sombra, a chuva, um desejo, um pouco de dor também. queria usar suas asas e lutar contra a gravidade que o fazia se manter num céu que já não era só dele e dos outros anjos desde que o ser humano resolveu voar.
mas se desprendeu. caiu. sentiu o frio arder em seu corpo ainda não acostumado com aquele lugar chamado terra. ele só queria acima daquilo, e deu tudo errado, e sem asas, estava mais preso à gravidade que nunca, ouviu gritos, ruídos, sofrimentos de pessoas que se colocaram vivas sem querer, e gritou também. "me tirem daqui, me ajudem."
mas ele era um anjo, ele estava lá, ele foi ajudar.
e ele é um humano, e continua sendo humano, e um dia realiza seu sonho, de se tornar o anjo que sempre quis. a imensidão desejada, percebeu ele, não era a que estava acima, mas era a imensidão de estar próximo de quem se gosta, de modo que a gravidade não fez mais a menor importância.


quarta-feira, 26 de junho de 2013

o facombiano parado pensativo

Andava pelos corredores ao encontro do chão e apenas ele. Piso por piso os pés andavam frente ao outro, rumo a algum canto onde, encostado à parede decorada de cores, e com o fone nos ouvidos, pudesse se preocupar apenas em esquecer as coisas tristes que afetavam a mente. Mas eram coisas tristes que não eram, eram momentos de decisão. Decisão confusa, "quais eram as chances de dar errado? Quais eram as chances de se arrepender? Quais eram as chances de perder o que estava consigo e não ter mais nenhum outro consigo?" Mas ficava lá, vendo as pessoas cuidarem de suas vidas sob as luzes e o reflexo das pilastras coloridas, que traziam alguma razão para estar naquele lugar. E chegava a hora de seguir com a vida, deixando para trás as dúvidas que nunca vão se calar.

sábado, 18 de maio de 2013

corre, é ao vivo

Vai começar a transmissão...
Três, dois, um
No ar
Não, espera, ouço um som!
É a mosca que voa a volta fazendo um zumbido irritante, e as batidas no vidro
"Fala alguma coisa, já!"
E não falo nada.
A chuva cai lá fora, gota por gota se dissipando e esse som é audível aos meus ouvidos que estão tão parados quanto minha boca que se mantém fechada.
Saio de dentro da sala fechada, passo em meio e pedras caídas e me entremeio nas gotas de chuva. E o ônibus que passa e molha mais ainda a quem já não conhece mais como estar seco, por culpa de poucos segundos.
E sons, e mais sons, e gritos, e a garrafa de refrigerante se abrindo e o sorriso da criança dentro do carro, e os guarda-chuvas que caem com o vento, e a buzina do carro que quase me atropela. Eu estou no meio da rua ou num lugar barulhento qualquer?
Não! Silêncio, só sinto a brisa e a calmaria dos sons do indeciso mar que nunca vai saber se está calmo ou não... Nem eu sei...
Mas eu volto a vida normal
"Bom dia, tivemos pequenas problemas técnicos, mas vamos começar"

domingo, 28 de abril de 2013

sobre esquecer

Dizem que quando não se procura mais ver é que se esqueceu
Mas é aquela coisa escapada, doída, escarrada do passado que vem a tona
E seria fácil pedir: "me deixar ver a foto, só uma vez que seja".
Poderia o outro entender?

quinta-feira, 18 de abril de 2013

"e você esteve aqui, sol radiante"

E todas as coisas que foram ditas não serviram para nada. Só desperdiçaram receptores auditivos que não voltam mais. Dispensaram momentos que poderiam ser silenciados com sorrisos. Fizeram dias menos proveitosos. Mas a chuva parou, "e você está aqui, sol radiante".
E agora eu creio que as coisas podem ser melhores. Que os sons que saem da boca saiam sem medo de fazer o bem. Que os sorrisos serão compartilhados, e os olhares trocados. Correspondidos. Beijos, carinhos, abraços. Porque a chuva já cessou, "e você está aqui, sol radiante".
E brilha com toda a força, trazendo a vontade de viver, e de se esconder. Como se seu brilho fosse tão maravilhoso que cansasse. Mas cansa. Cansa de ser feliz, mas quer ser mais feliz, e aí chove. A chuva para mas mesmo a chuva é sorridente. Já não é mais triste, "e você está aqui, sol radiante".
E gritam. Cada qual com seu que se sente melhor. Preconceito já não é existente, nem a raiva. Os passos andam largos, como se não houvesse fim do caminho. O caminho da vida termina na morte, e esse fim não é conhecido. Porque quando ele chega, então poderemos dizer: "e você está aqui, sol radiante".

sábado, 6 de abril de 2013

esperança

E lá está o olhar mais profundo impregnado em seus olhos depois de tanto tempo. A angústia de ser o que não poderia ser. De levar a vida como ela não poderia ser levada. De não fazer gosto aos que conviveram desde o nascimento. E chora levemente no canto de seu quarto, no escuro, com os braços em volta das pernas. Sem esperança, sem saber o que o futuro reserva.
E corre...
Mas agora deita na grama, estira-se num momento de solidão. 
Mas agora o ar venta em seu rosto, voa como a liberdade. E olha para os pássaros que voam sobre sua cabeça, e, nem que seja aquele momento, deixam-no lindo. 
E os pensamentos pediam calma, tranquilidade. 
Ah, a calmaria... 
O choro de esperança pode tomar o lugar do choro de desespero agora.
As lágrimas caem sobre a terra gramada, as mãos pousam sobre ela.
Um sorriso? Acho que vi...
Só o falta agora desistir da faca pressionada contra os pulsos

sábado, 16 de março de 2013

distração

É manhã. O sol ainda manda seus raios entremeados às árvores que balançam com o vento em frente à minha janela. Escutei assobios de pássaros que iniciavam sua jornada diária de vida. A manteiga estava derretendo no pão que ainda quente pairava sobre um pires, na mesa. O café e o leite ainda estavam separados, cada qual em seu recipiente, esperando a hora de se juntarem dentro de um copo de vidro. E o queijo derreteu. O apito do micro-ondas anunciou que aquela pequena barra branca tinha se tornando uma massa pastosa, que iria se juntar à manteiga e ao pão. E a brisa da manhã estava passando pela janela, e os raios de sol iluminavam cada vez mais aquele espaço fechado de um quarto-e-sala mal construído para solitários. E meus olhos ficavam apenas no movimento das árvores e dos pássaros.
O café e o leite continuaram separados, o queijo ainda dentro do micro-ondas, o pão esfriando em cima do pires. Perdi a hora apreciando a vida, que ao contrário de mim, humano egoísta mesmo não querendo ser, não tem que passar pelas dificuldades impostas por si mesmos, não tem que superar algo que eles mesmos construíram, não precisa sobreviver, precisa apenas viver... no final todo mundo morre.

quarta-feira, 13 de março de 2013

pulando em poças

Dificuldade é como poça d'água. Saltar dentro de uma delas, sentir ela de desfazendo em forma de gotas que sobem e depois descem, impregnando-se ao calçado, à calça, ou aos pés e pernas nuas que nem sempre estão preparados para aquilo. Mas o sorriso pode ser maior, pisar na poça, pisar na dificuldade vencida, se sujar do que depois vai embora num simples jorro de torneira ou batidas cronometradas de uma máquina de lavar.
Ah, se encarássemos as dificuldades com a mesma força de vontade de se sentir aliviado, e talvez se divertir então depois, como é o ato de se soltar da gravidade que nos prende ao chão e pular dentro de uma poça...

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

o cadeado

Me entrego preso entre as correntes mais fortes e escuras do meu pensamento, num lugar onde nenhum cadeado que as prendesse seria capaz de ser aberto. E pranteio pelo tempo que passou, na esperança de que se abra o cadeado da esperança.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

à imagem de quem possa fazer bem

A tua imagem me atacou
... e me fez sorrir, e me fez bem, e me fez querer ser
Me atacou de uma forma tão assombrosa,
mas de outro modo como nunca achei que desejaria, e eu me encontrei sorrindo
Não era a medusa que me faria pedra, nem a esfinge que me questionaria
Foi um ataque a minha mente, que me fez bem... Era a tua imagem, era a beleza, o sorriso, os olhos, tudo que eu pensei em ver
... e só de ver já me bastou. E eu estive alegre, ao lado do que valia a pena, do que era bom, do que me fazia bem
E te ver assim só trazia melhor esperança...
... de que sempre que eu puder, e quiser, eu posso sorrir.

sábado, 9 de fevereiro de 2013

despercebido

Eu percebi que a percepção é imperceptível.
Todos somos imperceptíveis.
Somos desgraças de humanos que buscam serem vistos, de alguma forma...
...e dessa forma vamos acabando a mergulhar cada vez mais na percepção de nada
Por que insistir? Por que lutar e machucar quem não queremos?
E esse alguém, machucado, era mais um que só queria ser percebido.
Mas não foi.
Não posso saber mais nada.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

ele, indefinido

Quis se querer, quis se amar antes de amar qualquer outra alma que estivesse presente em sua vida...
Tentou, mas seus olhos foram seus inimigos,
O que via eram ciscos para a sua visão...
Ele não queria tirá-los, mas sabia que eles tinham que sair.
Lutou, era tentação, era perigo,
Era não querer estar querendo estar, não querer ser querendo ser.
Era ele, aquele indefinido que não entende nada do que quer ver...
Muito menos sentir.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

pergunta para o tempo

Somos desgraças do tempo, filhos do que passa e não volta mais.
Deixamos tudo para trás.
Quem é que nunca se perguntou se realmente existiu o tempo antes do seu?

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

b

Eu queria que todas as coisas do mundo pudessem ser diferentemente mais belas do que já são, ou incrivelmente belas para tudo o que faz mal definitivamente pudesse sumir. Assim, o sonho de todo ser humano que se diz bom prevalece, e as coisas boas se deixam aparecer, mostrando que a beleza das coisas que nos fazem bem é maior que qualquer dificuldade que temos na vida. Afinal, a gente sempre chega à conclusão de que o que temos hoje pode ser cada dia melhor. E quem sabe um dia, melhorar seja transformar o que alguém não tem em algo real, e que isso faça o bem.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

todos somos

Eu não consigo ser minimamente o mais perto de chato, não ao menos na minha mais idiota concepção. Fugir desta vida, dos horrores lamentáveis deste horroroso tempo em que deploravelmente nos colocamos como humanos e, sem querer nos levar pelo que é bom para todos acabamos por nos levar pelo que é bom para o único indivíduo, o único "eu" que se nega a aceitar existirem outros "eus".
O mundo é muito mais do que eu sou, do que você é, do que ele é ou ela é. O mundo é de todos. Todos somos. E não há limite.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

a curva do til

Por que temos problemas? Se podemos resolvê-los?
Eu tenho problema, sou só mais um entre tantos que não veem solução, quando no fundo do poço toda força de humanidade se acabou em nós mesmos.
Mas eu decidi enfrentar as quinas... Ah, decidi! As linhas quebradas da escalada mais difícil, aquela com altos a baixos, pois eu quero polir, quero lapidar...
Quero transformar tudo isso...
E mostrar que superar é seguir, transformando tantas quinas, tantas quebras, tantos descompassos sem paz.
E seguir no caminho, como a curva do til, o mais belo dos sinais...